segunda-feira, 3 de março de 2014


PLANO DE AULA  DE LITERATURA INFANTO JUVENIL


Disciplina: Língua Portuguesa / Literatura               Série: 8º /9º anos
Conteúdo: o gênero textual conto e suas características
Tema:    o trabalho em função das necessidades básicas.
Assunto: O trabalho feliz em função das necessidades básicas legítimas em oposição ao trabalho estressante, que tece os caprichos da ambição alheia.
Tempo previsto: 5  a  6 aulas de 50 minutos
Objetivos
. Proporcionar aos alunos a oportunidade de se defrontar com pontos de vista diferentes sobre o mesmo tema
. Estimular o pensamento crítico em relação ao assunto proposto.
. Redigir com criatividade  e  eficiência a partir de textos trabalhados.
. Identificar vocábulos novos e usá-los em contextos diferentes.
.Reconstruir o enredo do texto.
Recursos Didáticos
computador ligado a internet,
Projetor
Folhas xerocadas, lápis, caneta.
Procedimentos
Pesquisa
Aula interativa
Trabalho em grupo
Dramatização
Apresentação de trabalho
Avaliação
Participação oral do aluno
Comportamento e atitudes dos alunos no trabalho em grupo.
Produção escrita de texto


-  Tear, tear, o que teces?
     -  Toalhas, mantas, tapetes...
      -  Ah! Se pudesses tecer sonhos!




A MOÇA  TECELÃ

         EM SEU TEAR, ELA TECEU 

   SONHOS E PESADELOS...


A MOÇA TECELÃ

Acordava de manhã ainda  no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de  um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se  sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram á porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
-Uma casa melhor é necessária - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. - Para que ter casa, se podemos ter palácio? - Perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais  alta torre.
- É para que ninguém saiba do tapete - disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário,e, jogando-a veloz de um lado  para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
Marina Colasanti

domingo, 2 de março de 2014



























   Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil.  Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis.  Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por  Rota de Colisão
     Dentre outros, escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher, Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma ideia toda azul Doze reis e a moça do labirinto de vento. 
     Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil.  Casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.



Interpretação oral  e escrita

Atividades
1- A moça tecelã pode ser classificado como um conto de fada? O que  o assemelha a ele e o que o diferencia?  
semelhanças
diferenças









2- Justifique com elementos do texto esta afirmação: "O tema predominante do conto é o trabalho feliz em função das necessidades básicas legítimas em oposição ao trabalho estressante, que tece os caprichos da ambição alheia".
3- Em que o companheiro dela se diferencia do príncipe dos contos de fada?
4- Divida o texto em introdução, desenvolvimento e conclusão.
5- O que você imagina que o jovem disse à tecelã assim que entrou em sua vida?
6- Por que - de um dia para o outro - ela não pode mais "chamar o sol"  nem "arrematar o dia"?
7-  Você acha que, mesmo decepcionada com o marido, valeu a pena tê-lo tecido? Por quê?
8 - O tear da moça foi capaz de criar e destruir o companheiro, mas não pôde destecer aquilo que a tornou infeliz. O que foi?
9 - "A tecelagem simboliza frequentemente a atuação do destino; no islamismo, por exemplo, a estrutura e o movimento do universo são comparados a um tecido."
Você acha que somos donos de nosso destino ou já nascemos predestinado? O que podemos tecer ou construir? O que podemos desfazer? Dê exemplos concretos e abstratos.

 10- Quem você acha que tem o poder de fazer e desfazer a realidade?

11- Você acha que depois do que ocorreu a jovem voltou a tecer outras pessoas ou coisas? Quem? O quê?

12- No final do conto pode-se afirmar que
(a) repete o início, com apenas algumas construções diferentes.
(b) difere do início: lá a natureza é que faz a manhã, aqui é a moça que  a tece.

A Moça Tecelã

Inicialmente  o professor falará sobre o gênero conto e suas características peculiares. A seguir, exibirá o vídeo A moça teçelã disponível em  http://www.youtube.com/watch?v=A_Ly7Myyo34